PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES

A importância das flores de Cannabis e da via inalatória – vaporizada

Autor: Dhãniel Dias Baraldi, MSc, PhD.
CRBM5- 7907
cbd@dhanielbaraldi.com.br
@dhanielbaraldi
(51) 999 64 1245

A Cannabis foi demonstrada ser efetiva no tratamento de dores crônicas, dor neuropática, espasticidade muscular na esclerose múltipla, náusea e vômitos induzidos por quimioterapia, além de muitos outros benefícios com maior ou menor nível de evidência científica, mas com crescentes evidências clínicas.

A vaporização de flores secas de Cannabis é proposta como uma forma efetiva de administrar doses terapêuticas de canabinoides, devido a seu perfil farmacocinético, que apresenta maior biodisponibilidade e velocidade de absorção, quando comparada com administração oral, e também a sua maior segurança, apresentando menos riscos respiratórios, quando comparada a forma fumada.

 

FALANDO DAS FLORES

As flores de Cannabis são a forma de armazenamento e transporte que melhor preserva a integralidade da planta. Isto significa que, mantendo as flores intactas, preserva-se os canabinoides, terpenos e flavonoides dentro de suas células de origem, protegidos da oxidação pelo contato com o ar e a luz, e outras formas de degradação. Confira minha coluna falando da importância terapêutica dos TERPENOS na Canabinologia Médica.

Além disto, flores in natura podem ser vaporizadas, permitindo rápida entrega e absorção de componentes fitoquímicos altamente terapêuticos.

Neste texto, vamos olhar para o assunto da VAPORIZAÇÃO das FLORES DE CANNABIS com FINALIDADE MEDICINAL investidos de empatia e responsabilidade, conscientes de que lidamos com um assunto importantíssimo para uma crescente população de pacientes que muito se beneficia desta modalidade terapêutica, que é a Cannabis vaporizada.

 

NEM TUDO SÃO FLORES

Este texto não trata da vaporização de outros insumos que não FLORES DE CANNABIS IN NATURA, utilizadas com propósito medicinal e terapêutico. Cartuchos e refis de produtos concentrados não são regulamentados no Brasil, e podem representar grande risco a saúde dos usuários ao apresentarem solventes e excipientes químicos tóxicos.

Por outro lado, FLORES DE CANNABIS in natura, quando de procedência confiável, representam um artifício valiosíssimo no arsenal terapêutico de qualquer profissional de saúde sintonizado com as necessidades e particularidades de seus pacientes, e atento as evidências clínicas e científicas mais recentes.

 

VAPORIZADA? É diferente de QUEIMADA?

É sim, e MUITO diferente. A queima/carburação da flor in natura aquece a planta a temperaturas altíssimas (~800°C), gerando produtos da combustão incompleta do carbono, que são fumos tóxicos e não terapêuticos contendo monóxido de carbono, fuligem, alcatrão, e diversas outras substâncias inflamatórias e cancerígenas, além de destruir pelo menos 40% dos canabinoides e terpenos contidos na matéria vegetal.

Este método inalatório é fortemente associado com doenças do trato respiratório, como rinite, bronquite crônica, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e asma, bem como sintomas respiratórios (tosse, pigarro e chiado no peito). Não obstante, o hábito de fumar também está associado a patologias da cavidade oral e dos dentes, câncer de boca e laringe, entre outros.

De modo geral, A QUEIMA DA CANNABIS TRANSFORMA A PLANTA MEDICINAL EM VENENO INALATÓRIO.

Por estas razões, e devido a evidências científicas já exaustivamente documentadas, FUMAR CANNABIS NÃO É INDICADO SOB NENHUMA CIRCUNSTÂNCIA.

Usuários adultos discordariam, mas estamos falando da perspectiva médica nesta coluna.

Por outro lado, a VAPORIZAÇÃO consiste no aquecimento preciso e controlado da matéria orgânica, através do uso de equipamentos eletrônicos especialmente projetados para este fim, permitindo a volatilização dos fitoquímicos SEM o processo de queima, e sem a consequente produção de fumaça tóxica, benzeno, tolueno, etc.

LEIA MAIS AQUI SOBRE VAPORIZADORES, SEUS PRÓS E CONTRAS.

 

POR QUE ALGUÉM IRIA QUERER VAPORIZAR?

Quando tratamos de usuários recreativos/adultos, a redução de danos e melhora da saúde pulmonar provavelmente são as principais razões pelas quais as pessoas optam pela vaporização. Estes usuários também se beneficiam de maior discrição, visto que a vaporização produz um odor muito mais suave do que a fumaça oriunda da queima, odor este que não impregna nas roupas e ambientes como faz a fumaça.  Devido à ausência de fumaça, o sabor e aroma da planta também são realçados, proporcionando uma experiência muito mais agradável e salutar.

Além da absorção inalatória vaporizada ser tão rápida quanto a fumada, este método apresenta AINDA MAIOR aproveitamento do conteúdo canabinoide da planta, visto que a QUANTIDADE de canabinoides absorvida através do vapor é muito maior, de acordo com estudo publicado no JAMA, respeitado periódico científico norte-americano. O que também se reflete em muito mais economia no seu orçamento canábico.

 

TESTEI E NÃO GOSTEI!

Usuários fumantes podem experienciar efeitos mais “brandos” com a Cannabis vaporizada do que com a Cannabis fumada, inicialmente. São comuns comentários do tipo:

“Prefiro fumar!”        
“Fumando me sinto melhor!”           
“Não é a mesma coisa!”        
“Fumado é mais forte!”

Uma possível razão para esta dicotomia, em que o vapor, mesmo contendo maior concentração de fitoquímicos do que a fumaça, ainda assim é percebido como mais fraco, é o fato de que o contato frequente com a fumaça altera o epitélio pulmonar, promovendo espessamento da camada de células que separa o ar atmosférico da corrente sanguínea, com infiltração de células inflamatórias e produção de muco, subsequentemente prejudicando a difusão de fitoquímicos do ar inalado para o sangue, o que resulta em menor absorção dos canabinoides pelos brônquios.

Ou seja, FUMANTES APRESENTAM CAPACIDADE PULMONAR DE TROCA GASOSA DRAMATICAMENTE REDUZIDA PELO FUMO.

O que não é novidade para ninguém.

A solução para esta situação é a redução ou total eliminação do contato com a fumaça, que pode resultar em progressiva re-sensibilização (no caso de usuários experientes) aos efeitos terapêuticos da planta, conforme o epitélio pulmonar se regenera. Este processo pode levar algumas semanas, e traz inúmeros benefícios a pessoa que reduz seu consumo de fumaça.

 

MAS EU SOU PACIENTE, E NÃO USUÁRIO!

No entanto os benefícios não param por aí, e os pacientes terapêuticos e medicinais também se beneficiam da absorção ultra-rápida obtida pela via inalatória, que atinge picos de concentração plasmática de canabinoides em apenas 15 minutos após a utilização, com efeitos terapêuticos detectáveis quase imediatamente. A absorção vaporizada é tão rápida e potente quanto a fumada.

Este perfil terapêutico muito específico e especial, que combina alta quantidade de canabinoides e terpenos inalados com absorção ultra-rápida, é de particular interesse para pacientes em tratamento de condições que necessitam de ação rápida para alívio imediato, as doses de resgate. Pertencem a este grupo pacientes de dor crônica, epilepsia, Parkinson, Síndrome do Pânico, e outras condições em que tempo de espera para o início dos efeitos terapêuticos é crítico. Como disse William Sanches, “quem tem dor, tem pressa!”.

 

VAMOS FLORESCER

Em conclusão, nesta coluna discutimos aspectos práticos da VAPORIZAÇÃO DAS FLORES DE CANNABIS, que apresenta perfil farmacocinético de absorção de canabinoides superior a via oral, e maior segurança terapêutica e economia de material do que a via fumada, configurando assim uma forma terapêutica legítima de administração de canabinoides para pacientes que precisam de ação rápida ou imediata.

 

REFERÊNCIAS

National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine. (2018).The health effects of cannabis and cannabinoids: The current state of evidence and recommendations for research. National Academies Press (US), https://doi.org/10.17226/24625.

Whiting PF, Wolff RF, Deshpande S, et al. Cannabinoids for medical use: A systematic review and meta-analysis. JAMA 2015;313(24):2456–73.

Therapeutic Goods Administration. Guidance for the use of medicinal cannabis in Australia: Overview. Canberra: TGA, 2017.

Spindle TR, Cone EJ, Schlienz NJ, et al. Acute Effects of Smoked and Vaporized Cannabis in Healthy Adults Who Infrequently Use Cannabis: A Crossover Trial. JAMA Netw Open. 2018;1(7):e184841. doi:10.1001/jamanetworkopen.2018.4841

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