O ESTRESSE E A CANNABIS

ESTRESSE E CANNABIS, UMA RELAÇÃO MUITO MAIS PROFUNDA DO QUE VOCÊ IMAGINA

Caros leitores, desejo que estejam todos bem. Hoje nessa redação iremos fazer uma análise profunda sobre a intensa batalha entre a regulação do sistema endocanabinoide e o estresse.

Confesso que sou suspeito para falar sobre o Sistema Endocanabinoide (SEC), tão majestoso quanto o sistema cardíaco ou respiratório e todos os outros nobres sistemas fisiológicos. O sistema endocanabinoide tem a sua incrível função de regular o nosso corpo, tendo como resposta um bem-estar geral; mantendo o equilíbrio eixo físico, mental e emocional.

O SEC, descoberto na década de 90 por pesquisadores americanos, é composto por Endocanabinoides: principalmente 2-Araquidonoilglicerol (2-AG) e Anandamida (AEA). Neste momento paro para fazer uma análise junto a você leitor (a). Ananda é uma palavra vinda do sânscrito que se refere a uma sensação de bem-estar, felicidade, prazer genuíno, alegria, êxtase. Não vejo um nome melhor para essa molécula endógena a não ser Anandamida.

Os endocanabinoides são as chaves que se ligam aos receptores CB1 e CB2 espalhados por todo nosso corpo, com foco em regulação global. Acontece que também dentro deste mesmo corpo produzimos um “veneno” capaz de desregular parte do sistema endocanabinoide; o estresse. Cada dia mais presente em nossa vida através de estímulos internos e externos como preocupações, medos, traumas, tensões, experiências vividas, acúmulo de sensações e emoções de uma vida corrida, uma alimentação irregular, uma rotina desgastante, estímulos externos vindo de notícias e fatos sensacionalistas impactantes, pós pandemia e outros. Inúmeros são os motivos para que o sistema de estresse seja ativado.

Tendo em vista que até o momento ainda não falei nada sobre a planta Cannabis sativa L., estou apenas descrevendo para o leitor (a) o que existe dentro de mim e de você. Acontece que essa desregulação do sistema endocanabinoide estimulado pelo estresse pode ser corrigido através de mudanças de hábitos prejudiciais. A atividade física de alta intensidade é capaz de aumentar a produção de Anandamida. A consequência é a percepção da melhora na qualidade de vida. Essas mudanças podem ser o suficiente para o equilíbrio do sistema endocanabinoide, porém para algumas pessoas é necessária uma suplementação externa, que incrivelmente é encontrada em uma planta. Entenda, por isso, o título deste artigo como uma batalha profunda.

Hoje em dia com avanços científicos e tecnológicos podemos ser beneficiados com o que de melhor a planta tem a nos oferecer justamente buscando a regulação do sistema fisiológico e todos os benefícios como controle da dor, proteção neurológica, neuroplasticidade, ação anti-inflamatória, anticonvulsivante, ansiolítica, dentre tantos outros benefícios que refletem em uma vida saudável.

Quando falamos de casos de estresse mais intenso, como o diagnóstico de Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT), a cannabis tem sido destaque grandioso, lembrando que a melhor forma de tratamento, linha ouro ao TEPT, segue sendo a psicoterapia.

Os pacientes com TEPT sofrem um agravo multissistêmico por desequilíbrio neuroquímico no sistema nervoso central, sistema imune, cardiovascular, metabólico e endócrino, levando a um grave problema de saúde pública e de uma péssima qualidade de vida para as pessoas que sofrem desta patologia.

Quando falamos do sistema nervoso central algumas regiões afetadas são intimamente ligadas ao sistema endocanabinoide e desregulada pelo TEPT, são elas:

Hipocampo; cuja função é armazenamento, processamento, recuperação de memórias e regulação emocional. Com o sistema endocanabinoide equilibrado, ativam as vias que inibem a ansiedade e modulam o processo de memória emocional. Já o TEPT deixa toda essa atividade reduzida por diminuição da matéria cinzenta, no córtex pré-frontal, cuja função é o planejamento, processamento de informações e pensamentos abstratos.

O sistema endocanabinoide se envolve em apagar o condicionamento do medo na adaptação da situação adversa por ativação de receptores CB1 na região medial do córtex pré-frontal, aperfeiçoando a neurotransmissão da serotonina. O TEPT armazena memórias condicionadas elevando a expectativa de que algo aconteça baseado no passado, isso gera medo exacerbado.

Na amígdala o processamento emocional inclui o medo e a preparação para emergência. Quando o sistema endocanabinoide está em equilíbrio, a ativação do CB1 bloqueia a reconsolidação de memórias negativas, o que ajuda as pessoas com transtorno de estresse pós-traumático a prevenir recaídas a partir de uma experiência estressante. Já quando o TEPT está hiperativado, há aumento da sensibilidade a partir de estímulos traumáticos e emocionais, mesmo quando não existe uma ameaça real.

Outra área do sistema nervoso central afetada é o eixo HHA, hipotálamo-hipófise-adrenal. Sua função é controlar a reação de estresse e muitos processos do corpo incluindo digestão, sistema imunológico, humor, emoções, sexualidade, armazenamento e gasto de energia quando o SEC se mantém em harmonia com a produção de hormônio de estresse em condições normais e modula toda atividade. Porém o TEPT provoca uma hiperativação levando uma hipervigilância a um estado crônico de luta e fuga.

Após a descoberta do SEC e o mapeamento de seus receptores, tem se revelado uma grande e promissora condição de terapia aos pacientes com TEPT devido à grande melhora dos quadros de insônia, diminuição de pesadelos, controle de ansiedade, melhor resposta emocional ao estresse, diminuição das memórias de medo e pânico, dentre outros. Outros destaques para os canabinoides é que ocorre uma grande diminuição no consumo de benzodiazepínicos para o controle de estresse.

Caro Leitor (a) peço que faça neste momento uma análise de consciência do seu nível de estresse. Veja quais ações, quais mudanças de hábitos, quais hábitos saudáveis você pode definir para sua vida a fim de reduzir o nível do estresse. Caso você tenha um estresse pós-traumático essa orientação é redobrada, busque ajuda hoje.

Os números com tratamento de cannabis medicinal frente aos transtornos de estresse pós-traumático tem deixado os cientistas muito entusiasmados, um futuro promissor de tratamento e resposta clara à qualidade de vida destas pessoas.

 

Referências:

Cannabis Medicinal, Barroso V.V, Junior C. J. Z. Neto P. C. M. 2023

https://cienciasecognicao.org/neuroemdebate Acessado em 06/06/2023

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