CUIDADOS PALIATIVOS

Cuidados paliativos e a cannabis, dignidade e conforto em todas as fases da vida

Olá leitores, espero que todos estejam bem. Hoje iremos abordar um tema muito importante para a evolução da medicina moderna, que cada vez mais tem um bom destaque e reconhecimento devido ao grande número de pacientes que se encontram em uma fase frágil e de possível sofrimento durante um tratamento de uma doença ou estado de saúde delicado. Hoje iremos abordar os cuidados paliativos e como a cannabis pode ser uma grande aliada nessa fase da vida das pessoas.

Com a evolução da ciência, da medicina e principalmente de fatores como saneamento básico e vacinas, a longevidade do ser humano praticamente dobrou. Há pouco mais de um século a estimativa média de vida do homem estava em 40 e 50 anos. Hoje tal sobrevida passa dos 80 anos. Como consequência do aumento na expectativa de vida, em média o ser humano vive de 2 a 4 anos passando por um período de dependência, em um estado de saúde em franco declínio natural.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define cuidados paliativos como uma abordagem que melhora a qualidade de vida de pacientes e familiares que enfrentam uma doença ameaçadora da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento por meio de identificação precoce e avaliação impecável, assim como tratamento da dor e outros problemas físicos, psicológicos, sociais e espirituais.

Todo estado de dependência gera no paciente algum tipo de sofrimento, seja este físico, familiar, mental, emocional, social ou espiritual. A medicina muitas vezes fica limitada aos tratamentos da patologia, porém em nenhum momento ela pode ficar limitada aos sofrimentos. Neste momento deve entrar em cena o time de cuidados paliativos, uma equipe multidisciplinar de profissionais que visa manter o paciente como protagonista do tratamento na medida do possível gerando o maior conforto e bem-estar para a sua vida.

As pessoas que recebem um diagnóstico de doença grave; que logo no início já tem a oportunidade de iniciar o seu tratamento com cuidados paliativos, conquistam uma sobrevida de cinco meses em comparação aos que não seguem essa linha de tratamento, levando em conta que é uma área que está em desenvolvimento em nosso país. Cada vez mais especialistas e profissionais de diversas áreas da saúde tem o interesse em desenvolver conhecimento técnico e científico para atuar; encontramos enfermeiros, médicos, assistente social, psicólogos, farmacêuticos, fisioterapeutas, nutricionistas cada vez mais preparados.

Apesar de muitas vezes a equipe de cuidados paliativos entrarem em cena nas patologias mais graves ou em fase de declínio da vida, não é sinônimo de morte, sim de evidenciar e viver a vida de forma digna com maior qualidade, mínimo de sofrimento e conforto em qualquer esfera biopsicosocioespiritual.

Outro fator que tem gerado tratamentos com cuidado paliativo é a multimorbidade, onde a prevalência de doenças do envelhecimento e ocorrências em conjunto de múltiplas doenças crônicas desenvolvem fenômeno que aumenta cada vez mais devido ao avanço da idade.

A multimorbidade é ocorrência simultânea de duas ou mais doenças físicas ou psiquiátricas que podem ou não interagir entre si em um mesmo indivíduo. Em geral os pacientes idosos com doenças crônicas, oncológicas, neurodegenerativas, sofrem muito desse estado de saúde devido a diversas doenças crônicas que vão se acumulando ao decorrer da vida.

Os sinais e sintomas múltiplos como dor, náusea, vômito, falta de apetite, perda de peso, ansiedade, dificuldade de locomoção, fragilidade emocional, alteração de humor, todos esses têm como opção do arsenal medicamentoso a cannabis, com resultados positivos frente a diversos estudos pelo mundo todo.

Uso da cannabis junto aos cuidados paliativos tem sido uma estratégia muito bem avaliada devido ao seu alto potencial terapêutico, de neuroproteção, homeostase fisiológica, analgesia, anti-inflamatório, estabilidade mental e emocional como antidepressivo e ansiolítico.

Uma outra situação muito bem-vinda após a administração da cannabis é que pacientes que se encontram em estados delicados de saúde geralmente usam como tratamento a polifarmácia, ou seja, muitos medicamentos devido ao grande quadro sintomático e de controle metabólico, assim a cannabis tem sido muito utilizada como ferramenta para o desmame de medicamentos no tratamento de doenças como Alzheimer, Parkinson, esclerose lateral amiotrófica, câncer, depressão, dentre outras.

Os canabinoides, graças a sua atividade multimodal e um perfil de segurança bom, podem oferecer uma valiosa contribuição para complementar esse tratamento paliativo, lembrando também que sofrimento espiritual e psicológico tem tido um ótimo resultado com o uso dessa sagrada planta.

Na esfera espiritual, pelo menos a mais de 4.500 anos existem relatos de aplicações medicinais em toda a história. Na Ásia central, o uso de cannabis precede o desenvolvimento da religião, sendo praticado em suas tradições espirituais que mesclam magia, mitologia e cura. Praticantes das antigas religiões como sulfistas, budistas tibetanos, rastafari e hindus usavam a cannabis como uma erva medicinal devido a sua centralidade e com o poder de combater e controlar diversas doenças eram utilizados em ritos para vencer as forças do mal.

É possível pensar que o uso de cannabis em cuidados paliativos poderia abrir um caminho para novas possibilidades terapêuticas alinhados a psicoterapia que visem atender a necessidade espiritual do paciente nessa forma avançada de doença ou fase final de vida.

A medicina moderna e tecnológica certamente vem trazendo para toda a humanidade uma possibilidade real de uma maior expectativa de vida, porém essa mesma tecnologia muitas vezes distancia o ser humano que cuida do ser humano a ser cuidado. A cannabis e os cuidados paliativos definitivamente mostram que a medicina pode ser um grande apoio com um afeto humano na fase da vida, onde o sofrimento é iminente e deve ser controlado o melhor possível para dias de vida dignos a todos.

Caro leitor, caso se encontre ou conheça alguém que esteja em uma situação de sofrimento por perda de saúde, não deixe de considerar os cuidados paliativos e tratamento canábico como uma opção de grande potencial para a melhora da qualidade de vida a todos envolvidos que passam por esse período delicado. Viver bem e confortável é um direito a todos em todas as fases!

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