A PLANTA SAGRADA

A CANNABIS COMO PLANTA SAGRADA

O uso da cannabis como sacramento religioso é anterior à história escrita e as evidências de seu lugar como planta sagrada podem ser encontradas na maioria das religiões antigas, incluindo o budismo, o xintoísmo, o sufismo e o cristianismo; e entre as tribos bantu, pigmeu, zulu e hotentote da África. Várias religiões modernas ainda praticam o consumo cerimonial da cannabis psicoativa, enquanto outras a consideram sagrada devido às suas muitas outras propriedades, reverenciando-a como um símbolo de força, pureza ou bem-estar.

Veja abaixo como o uso da planta está inserido na cultura de alguns países de forma milenar:

 

Egito

Os rituais fúnebres dos antigos egípcios podem ser os mais conhecidos de todas as sociedades antigas – o processo de mumificação e enterro de figuras notáveis com seus pertences valiosos para serem usados por eles na vida após a morte. No entanto, cientistas descobriram pólen de cannabis nos restos mortais de Ramsés, o Grande, Faraó em 1213 AC.

Traços de cannabis também foram descobertos em outras múmias egípcias antigas. Por exemplo, vários estudos da década de 1990 descobriram vestígios de THC (o composto psicoativo da cannabis) nos restos mortais de várias múmias. Uma múmia que se acredita ter sido enterrada por volta de 950 aC tinha uma quantidade significativa de THC, junto com nicotina e cocaína, em seus tecidos.

A deusa egípcia, Sheshat, a divindade da escrita e manutenção de registros, era frequentemente representada com uma folha em forma de estrela de sete pontas acima de sua cabeça. Muitos acreditam que esta é uma ilustração da folha de cannabis, indicando a importância atribuída à cannabis na sociedade egípcia antiga.

 

India

Maha Shivaratri ou apenas Shivratri é uma festa religiosa celebrada na 13ª noite do mês de Magha/Phalguna, no calendário hindu, pelos devotos que oferecem orações especiais ao deus Shiva, o qual acredita-se ser o deus da destruição e da dança cósmica. O Shivaratri (“ratri” em sânscrito significa ‘noite’) é a noite quando o Tandava Nritya dançou a dança da Criação, preservação e destruição. O festival é observado durante um dia e uma noite.

Flores, incenso e outras ofertas são feitas, enquanto orações e cânticos devocionais são cantados. Bhang, uma bebida feita de folhas e flores de cannabis, trituradas em uma pasta com um pilão, embebidas em água quente e misturadas com leite e especiarias é consumida por muitos, na ocasião do Maha Shivaratri.

 

Israel

No sítio arqueológico de Tel Arad, na região central de Israel, uma substância em bom estado de preservação foi encontrada em um templo de 2,7 mil anos de idade. Ela foi identificada pelos cientistas como maconha e continha inclusive o composto psicoativo da cannabis, o THC. Os pesquisadores afirmam que a maconha pode ter sido queimada para induzir nos fiéis um estado alterado de consciência.

No estudo, publicado no jornal arqueológico da Universidade de Tel Aviv, os arqueólogos dizem que dois altares de calcário foram achados enterrados no santuário.

Graças a isso e ao clima seco, os resíduos de cannabis foram preservados no topo desses altares.
Também foi encontrado incenso em um altar, o que não surpreende por sua importância em textos sagrados, disseram os autores do estudo ao jornal israelense Haaretz.

Compostos encontrados na maconha, foram identificados no segundo altar. O estudo acrescenta que as descobertas em Tel Arad indicam que a maconha também teria sido utilizada em cultos no Primeiro Templo de Jerusalém.

 

China

Cientistas extraíram compostos da planta em vasos milenares na China. O estudo foi publicado na “Science Advances” e aponta para a queima das folhas em rituais religiosos há 2,5 mil anos.

Os dez objetos foram retirados em uma escavação dos túmulos arqueológicos do cemitério Jirzankal, na cordilheira de Pamir, na China. Uma análise química mostrou evidências do uso da planta durante os encontros – compostos da cannabis usada na época foram encontrados nos fragmentos de madeira e pedras queimadas.
Segundo os pesquisadores, uma alta quantidade de THC foi detectada. Até então, a maioria das evidências do uso da droga por povos antigos estava em registros escritos, com veracidade questionada pelos cientistas.

O estudo avança com relação ao uso da droga devido às suas propriedades psicoativas e medicinais – já é confirmado, por exemplo, o cultivo da planta por sua semente e fibra há 4 mil anos na Ásia. A novidade é comprovar o uso consciente dos seres humanos devido às propriedades da maconha.

De acordo com o artigo, o material encontrado no local da escavação aponta para o fato de que os povos antigos fumavam a planta durante cerimônias de passagem dos mortos das comunidades, uma tentativa de se comunicar com espíritos passados.

 

Jamaica

Ganja (cannabis) como é conhecida na Jamaica é considerada a “erva da sabedoria” pelos Rastafaris, eles usam como parte de um rito religioso e como um meio de se aproximar de seu eu espiritual interior, Jah (Deus) da Criação.

A cannabis também é vista pelos rastafáris como a erva da vida mencionada na Bíblia. O uso da cannabis é justificado pelos Rastafaris pelo Salmo 104:14 que diz:

“Ele faz crescer a grama para o gado e a erva para o serviço do homem, para que ele possa tirar o alimento da terra”.

A defumação da Ganja faz parte do cerimonial de encontros Rastafari. Quando há uma grande reunião de “racionamento” , um cálice, que é um grande cachimbo, pode ser passado e fumado pela congregação. Para eles é o mesmo significado da distribuição de um cálice de comunhão como em algumas denominações cristãs.

Essas reuniões também são chamadas de Nyahbinghi.

Os Rastafari mais comprometidos não fumam cigarros, pois são vistos como não naturais e perigosos para a saúde. A maconha não é a única planta ou erva usada pelos rastafáris.

 

Referências:

Uso de Cannabis no Egito no Mundo Antigo

https://smokebuddies.com.br/hindus-fumam-maconha-por-deus-shiva/

https://www.bbc.com/portuguese/geral-52855081

Uso ritualístico da cannabis

https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/06/12/objetos-arqueologicos-sao-evidencia-para-uso-de-maconha-em-rituais-religiosos-ha-25-mil-anos.ghtml

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