O transtorno de ansiedade é uma das condições psiquiátricas com maior prevalência na população mundial, atingindo cerca de 265 milhões de pessoas. Apesar da grande taxa de prevalência, a fisiopatologia dos sintomas de ansiedade e depressão ainda não são totalmente compreendidos. Sabe-se que existem alterações neuroquímicas nos circuitos cerebrais que envolvem o humor, através de substâncias GABAérgicas e neurônios serotoninérgicos presentes no Sistema Nervoso Central (SNC).
A partir de estudos utilizando análises de imunohistoquímica, os cientistas identificaram a presença de neuromoduladores endógenos e seus receptores. Os receptores endocanabinoides, que fazem parte do sistema endocanabinoide (SEC), estão presentes em diversas regiões do corpo, incluindo regiões do cérebro responsáveis pelas emoções.
Atualmente sabe-se que existe associação entre a neurogênese induzida por canabinoides e a melhora dos sintomas da ansiedade. Com o avanço do conhecimento científico sobre a atuação dos canabinoides em regiões do cérebro, os pesquisadores perceberam efeitos ansiolíticos, panicolíticos, anticompulsivos e antidepressivos. Apesar da necessidade de estudos clínicos mais aprofundados e conclusivos, efeitos ansiolíticos de doses únicas de CBD (300-600mg) foram demonstrados em pacientes diagnosticados com ansiedade social.
Os mecanismos de ação dos canabinoides que promovem os efeitos ansiolíticos parecem estar relacionados às atividades agonistas dos receptores serotoninérgicos 5-HT1A e receptores CB1, assim como elevação dos níveis de anandamida através da inibição das enzimas que decompõem este endocanabinoide, popularmente conhecido como “substância da felicidade”.
Os benzodiazepínicos pertencem a uma classe de fármacos comumente utilizados devido sua capacidade ansiolítica e inibitória do Sistema Nervoso Central. Estes ansiolíticos tradicionais podem produzir uma série de efeitos colaterais. Um estudo de metanálise conduzido por Parsaik e colaboradores (2015), demonstrou que pacientes que faziam uso de benzodiazepínicos apresentavam risco elevado de vida quando comparado a pessoas que não faziam uso desta classe de fármacos. Outro estudo demonstrou que 44% dos usuários de benzodiazepínicos se tornaram dependentes da substância (Minaya et al., 2011). Entre os efeitos colaterais dos benzodiazepínicos, pode-se citar sonolência, confusão, tontura, fraqueza e falta de coordenação.
Em 2017, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou um relatório onde diz que o Canabidiol (CBD) não apresenta efeitos que indicam abuso ou potencial de dependência química. O relatório ainda cita não haver evidências de problemas relacionados à saúde pública a partir do uso do CBD para fins medicinais.
Em 2019, o pesquisador Purcell e sua equipe, perceberam que cerca de 45% dos pacientes que usavam fitocanabinoides (canabinoides extraídos da planta Cannabis sp.) para fins medicinais, deixaram de fazer uso de benzodiazepínicos. Os canabinoides podem ser usados como adjuvantes para o tratamento ou, como foi o caso de parte dos participantes da pesquisa citada, ser utilizados como substitutos aos fármacos tradicionais. Contudo, é importante que um médico seja consultado para que possa ser avaliado caso a caso. Através da avaliação, o médico poderá prescrever a terapia mais adequada para você, leitor.
Escrito por Rodrigo Crovella, biólogo e especialista em canabinoides.